terça-feira, 11 de fevereiro de 2014

A anatomia de um asteroide



Com o auxílio do NTT (New Techonology Telescope) do ESO descobriu-se a primeira evidência de que os asteroides tem uma estrutura interna extremamente variada. Ao fazer medições muito precisas, os astrônomos descobriram que partes diferentes do asteroide Itokawa tem densidades diferentes. Descobrir o que se encontra no interior dos asteroides, para além de revelar segredos sobre sua formação, pode também informa-nos sobre o que acontece quando corpos celestes colidem no Sistema Solar e dar-nos pistas sobre como se formam os planetas.
Com o auxílio de observações muito precisas obtidas a partir do solo, Stephen Lowy (Universidade de Kent, RU) e colegas mediram a velocidade à qual o asteroide próximo da Terra (25143) Itokawa roda e como é que esta taxa de rotação varia com o tempo, combinado seguidamente estas observações com trabalho teórico inovador sobre como é que os asteroides irradiam calor.

Crédito: ESO; reconhecimento: JAXA
Vista esquemática do estranho asteroide em forma de amendoim Itokawa. Ao fazer medições extremamente precisas cm o auxílio do NTT do ESO e combinando esses dados com um modelo da superfície do asteroide, uma equipe de astrônomos descobriu que partes diferentes deste objeto tem densidades diferentes. O modelo da forma do asteroide utilizado nesta imagem baseia-se em dados obtidos pela sonda Hayabusa da Agência Espacial Japonesa (JAXA).


Este pequeno asteroide é bastante intrigante uma vez que apresenta a estranha forma de um amendoim, como foi revelado pela sonda japonesa Hayabusa em 2005. Para investigar a sua estrutura interna, a equipe de Lowy utilizou, entre outras, imagens recolhidas entre 2001 e 2013 pelo NTT e ESO, instalado no Observatório de La Silia, no Chile, para medir a variação do brilho do objeto à medida que este roda. Estes dados foram depois usados para deduzir o período de rotação do asteroide de modo muito preciso e determinar como é que este período varia com o tempo. Esta informação, quando combinada com a forma do asteroide, permitiu explorar o seu interior - revelando pela primeira vez a complexidade que se encontra no seu núcleo.
"Esta é a primeira vez que conseguimos determinar como é o interior de um asteroide" explica Lowy. "Podemos ver que Itokawa tem uma estrutura extremamente variada - esta descoberta é um importante passo em frente na nossa compreensão dos corpos rochosos do Sistema Solar."
A rotação de um asteroide e de outros pequenos corpos no espaço pode ser afetada pela luz solar. Este fenômeno, conhecido por efeito Yarkovky-O'Keefe-Radzievski-Paddack (YORP), ocorre quando a radiação solar absorvida pelo objeto é re-emitida pela sua superfície sob a forma de calor. Quando a forma do asteroide é muito irregular, o calor não é irradiado de modo homogêneo, o que cria no corpo um binário, pequeno mas contínuo, que muda a sua taxa de rotação.
A equipe de Lowy determinou que a taxa à qual o asteroide roda está lentamente a acelerar devido ao efeito YORP. A variação na velocidade de rotação é minuscula - uns meros 0,045 segundos por ano, no entanto este resultado é muito diferente do esperado e apenas pode ser explicado se as duas partes do objeto em forma de amendoim tiverem densidades diferentes.
Esta é a primeira vez que os astrônomos encontram evidências para uma estrutura interna dos asteroides extremamente variada. Até agora, as propriedades do interior dos asteroides apenas podiam ser inferidas através de medições globais aproximadas da densidade. Este resultado levou a muita especulação relativamente à formação de Itokawa. Uma possibilidade é que o asteroide tenha se formado a partir de duas componentes de um asteroide duplo depois de ter havido colisão e fusão dos dois objetos.
Lowy acrescenta, "Descobrir que os asteroides não tem interiores homogêneos tem implicações importantes, particularmente para os modelos de formação de asteroides binários. Este resultado poderá igualmente ser aplicado em trabalhos que visam diminuir as colisões de asteroides com a Terra ou em planos para futuras viagens a estes corpos rochosos."
Esta nova capacidade de sondar o interior de um asteroide é um importante passo em frente e pode ajudar-nos a desvendar muitos dos segredos destes objetos misteriosos.

Nenhum comentário:

Postar um comentário