Astrônomo do Observatório Nacional, Felipe Braga-Ribas inscreve seu nome na história da exploração espacial ao descobrir massas de fragmentos cósmicos que orbitam um pequeno asteroide nos confins do sistema solar.
A cada dois meses, Felipe Braga-Ribas, de 31 anos, se dirige ao Galeão para embarcar rumo a destinos remotos, como os confins do Deserto do Atacama ou a Ilha da Tasmânia, junto à costa da Austrália. Cada temporada no exterior dura em média quinze dias e costuma envolver altas doses de aventura. Não, o jovem com pinta de surfista não é aventureiro nem esportista radical. Quando chega a esses lugares remotos, ele olha para o céu. Mais especificamente, para um ponto a mais de 2 bilhões de quilômetros da Terra. Braga-Ribas é astrônomo do Observatório Nacional, em São Cristóvão, onde realiza um pós-doutorado em astrofísica planetária. E percorre o mundo em busca de melhores pontos para observar e desvendar os segredos do espaço. Na quarta (26), a publicação de um estudo coordenado por ele na prestigiada revista Nature causou alvoroço na comunidade científica, sendo noticiado por redes de televisão internacionais como a britânica BBC e a americana CNN. Ao observar um pequeno asteroide batizado de Charklo, que vaga quase nos limites, o cientista identificou dois anéis de fragmentos cósmicos girando ao seu redor. Com isso, derrubou uma espécie de consenso entre os especialistas de que apenas grandes planetas, como Saturno e Urano, possuem tais estruturas. Graças às suas observações, sabe-se agora que pequenos blocos de rocha, corpos infímos dentro da imensidão sideral, também podem ser circundado por esses fenômenos. Para um leigo, a revelação pode ser irrelevante, mas ela está provocando uma revisão completa do que se conhece sobre o assunto. "Essa formação pode nos dar pistas preciosas sobre a formação do sistema solar", acredita Braga-Ribas. "Assim como ajudar a entender melhor a origem os planetas", conclui o descobridor, que batizou as duas formações identificadas por ele como Oiapoque e Chuí.
Tratado como feito histórico, a descoberta de Braga-Ribas o coloca no primeiro time de estudiosos do cosmo. O momento-chave da pesquisa se deu na noite de 3 de junho do ano passado. Sob a coordenação do astrônomo do Observatório Nacional, uma equipe de sessenta especialista de diversos países, distribuídos entre Chile, Argentina, Brasil e Uruguai, voltou os olhos e telescópios para o Chariklo, uma espécie de pelota cósmica de 250 quilômetros de diâmetro ou menos de um décimo do tamanho da Lua. O objeto passaria na frente de uma estrela longínqua, provocando um eclipse. Chamando por estudiosos de "ocultação estelar", esse fenômeno é utilizado para observar detalhes de corpos que vagam no espaço e que se tornam visível contra a luz de estrela. Apesar da duração curtíssima, de apenas doze segundos, o eclipse permitiu aos cientistas ver que o asteroide não viaja sozinho, mas em companhia de duas aglomerações de partículas de água de gelo (veja detalhes no quadro ao lado). "Foi um desafio enorme. Para efeitos de comparação, é como se observássemos uma moeda de 1 real a mais de 200 quilômetros de distância", conta.
Nascido em Curitiba, Braga-Ribas apaixonou-se pelos mistérios do céu quando estudava física na Universidade Federal do Paraná. Motivado pela família, mudou-se para o Rio, em 2007, para cursar astronomia no observatório do Valongo, na UFRJ. Em 2011, partiu para uma temporada de dois anos de estudos no Observatório de Paris-Meudon, na França. A obsessão com que vasculha o sistema solar rendeu ainda passagens engraçadas. Certa vez, quando ainda morava com os pais em Curitiba, decidiu construir um observatório no telhado, com direto a teto retrátil e telescópio. "Antes, tive de convencer minha mãe de que a casa não alagaria quando chovesse", lembra, às gargalhadas.